Você quer dinheiro? e o melhor em casa, navegando......huuuummmmmmmmm

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

QUANDO O OLHAR DE POETA SE MANIFESTA


A complicada arte de ver

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria!
Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…

CRISE ARABE AMEAÇA ECONOMIA GLOBAL

GENEBRA - Uma crise política prolongada no norte da África e a manutenção do preço do petróleo acima de US$ 100 podem jogar a economia global mais uma vez em uma recessão. O alerta foi feito nesta terça pelo diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Nobuo Tanaka, que deixou claro que a turbulência pode afetar a recuperação da economia mundial.
Os confrontos na Líbia, o primeiro produtor importante de petróleo a ter sua produção afetada pela revolução social que está se alastrando pelo norte da África e pelo Oriente Médio, e o discurso desafiador do ditador Muamar Kadafi pressionaram o preço do petróleo, derrubaram as bolsas e jogaram para cima a cotação do dólar no Brasil (leia mais sobre a crise no norte da África nas páginas A10 a A14).
O preço do petróleo retomou o patamar de 2008 e fechou ontem em US$ 106,46 (tipo Brent, em Londres). A Bovespa caiu 1,22%, a Bolsa de Nova York, 1,44% e a de Milão, 1,06%. A Itália é um dos países mais expostos à crise na Líbia.
No Brasil, também pressionado pela turbulência nos países do norte da África, o dólar teve alta de 0,30% e fechou o dia cotado a R$ 1,672. No mercado global, houve corrida por ativos tradicionais, como o ouro e o franco suíço. A prata atingiu seu maior nível em 34 anos.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tentou garantir ao mercado que a produção dos demais países seria aumentada para compensar os problemas na Líbia. Já a AIE disse que colocaria à disposição suas reservas estratégicas, em caso de necessidade.
Estagflação. O executivo-chefe da Pacific Investment Management Co. (Pimco), Mohamed el-Erian, afirmou em artigo publicado pelo Financial Times que "devemos nos preparar para um choque no Oriente Médio". Segundo ele, a turbulência política no Oriente Médio e no norte da África deverá ter um "efeito sistêmico" na economia global, provocando um "vento estagflacionário" no curto prazo - uma combinação de estagnação econômica com alta dos preços.
Para El-Erian, o desempenho relativamente fraco do dólar durante esse período de crise é "uma advertência" de que a moeda americana poderá perder seu status de refúgio seguro. Isso indica que as pessoas estão começando a se preocupar com a situação fiscal dos EUA, disse.
"Tomo isso como advertência de que não podemos partir da premissa de que manteremos a posição de principal moeda de reserva, como no passado", disse El-Erian. Ele também afirmou que a alta dos preços do petróleo está reduzindo o poder de compra, enquanto os riscos geopolíticos elevados poderão ter impacto negativo nos investimentos em todo o planeta.
Ele disse ainda que os mercados globais terão de conviver com preços mais altos de petróleo "por algum tempo".